domingo, 6 de janeiro de 2013

Cidade escondida, cidade viva. Vivacidade!


Nessa quinta-feira, após a labuta diária, resolvi fazer um passeio inusitado ao Centro Histórico da cidade para conhecer um cinema que tinha visto pela internet um dia antes. Todo verão sinto essa necessidade de sair por aí vagando por essa Salvador de meu Deus, conhecendo lugares diferentes, descobrindo e redescobrindo essa cidade e sua magia, ou apenas fazendo um roteiro diferente que nunca tinha feito. Talvez seja porque nessa época a cidade se enche de gente, de turistas e essa atmosfera de conhecer e de se encantar contagia até gente daqui.

Dei o nome dessa minha operação particular de: Explorando Salvador!
Sim, explorar Salvador, poque mesmo nascendo e morando aqui por toda minha vida, é incrível como sempre descubro um lugar novo, despretensioso, interessante. 

Então peguei um ônibus, desses executivos, por volta das 15h30 e calculei que daria tempo para ir no Mercado Modelo, subir o Elevador Lacerda e por fim procurar o cinema para pegar a sessão das 18h. Pura ilusão! A viagem foi longuíssima e eu que achava que duraria uns 40 min. demorou mais de uma hora. Mas como foi relaxante rodar pela cidade, passar pela Barra, Campo Grande, Av. Contorno...coisas lindas de se ver e de dilatar a alma.
Mas, ao descer no ônibus bem em frente ao Elevador Lacerda, me assustei! Uma fila que fazia caracóis e uma visão devastadora: um lugar sujo e abandonado. As expressões dos turistas não disfarçavam a frustração de conhecer então o famoso Elevador, ponto turístico chave da capital da alegria, totalmente abandonado, com funcionamento precário e entupido de pedintes. Mas a frustração deles não foi maior do que a minha; de alguém que já viu aquilo nos "trinques", brilhando, um símbolo de glória para a cidade, um orgulho para os soteropolitanos. Senti um misto de decepção,  raiva, revolta, vergonha...e muitos dos conterrâneos que ali estavam, manifestavam essa indignação. Apenas um dos elevadores funcionava e haviam caixotes imensos por todos os lados com avisos "estamos trabalhando para lhes atender melhor". Pensei: hum, sei....Desde quando isso deve estar ai?  E pensei: minha cidade toda está nessa situação. Meu Deus, porque a maltrataram tanto assim?

Durante a subida, fiquei temerosa com o que encontraria no Centro Histórico...mas chegando por lá nem tive tempo para reparar muito pois segui direto para o cinema pois a sessão já ia começar. Fui guiada pelas imagens na minha cabeça do google maps que memorizei no dia anterior. Me deparei enfim com um cinema maravilhoso, lindo, aconchegante, alternativo. Na verdade é um casarão antigo que abriga uma pequena sala de cinema em seu piso subsolo. Em cartaz, inúmeros filmes cults pra encher meu coração de alegria em perceber que nem tudo está perdido para o meu gosto cinematográfico. Achar aquele cinema foi como descobrir um tesouro muito especial. E queria poder compartilhar com todos que conheço:
Cults, cults, cults!!! 
Cine XIV - Sala de Arte - Pelourinho (http://www.saladearte.art.br/)
 #Ficaadica 


Encontrei paz e assisti muito feliz e de coração aberto o filme: 7 dias em Havana (é, adoro filmes sobre Cuba) e aí abro um parêntesis para a Sessão Cinéfila inaugurada post passado.
7 dias em Havana: um filme no estilo recortes (Daniel Brühl) de histórias, que na verdade é um projeto cinematográfico coletivo - (Daniel Brühl)  onde 7 diretores diferentes e com visões distintas contam em respectivos curtas  alguma história desta cidade. Em cada dia da semana é contada (Daniel Brühl)  uma delas. Todas as histórias  têm como cenário ou personagem principal, a cidade de Havana. Também se apresentam como coadjuvantes os problemas sociais, políticos e os abastados clichês sobre Cuba: o conflito com os EUA, o falido governo socialista, a falta de oportunidades, a ruim condição financeira, a macumba (para turista), a vontade de fugir da Ilha. (Daniel Brühl) . Das sete histórias destaco a "El Yuma" - Benício del Toro (que é a história de um americano que vai estudar teatro em Cuba),"Doce-Amargo" e a "Tentação de Cecília" que pra mim é o melhor devido a participação do ator mais charmoso, lindo e delirante desse mundo e de outros caso houver: Daniel Brühl - Um ator hispano-alemão que me surpreende pela sua beleza versatilidade. Já assisti filmes em que ele era o alemão, inglês, polonês e agora um espanhol. Faz isso tão bem e de forma tão convincente que não tem como você não acreditar em cada uma de suas exímias atuações. E sendo bem sincera, não vou negar que foi  por ele participar do filme que bati o martelo final na decisão de ir assistir... ;)
Então, recomento este filme para aqueles que querem um pouco mais da cidade de Havana, talvez não muito além do que já é convencional...mas para se convencer ainda mais da sua gente, do seu ritmo, da sua sensualidade, sua beleza, também dos seus problemas, mas também da sua fé.....da sua vivacidade!

Tentação de Cecília - 7 dias em Havana (Daniel Brühl ) 
~
Ao terminar o filme já era noite e me vi desesperada em sair correndo ladeira acima movida por um medo medonho que tenho do Centro Histórico a noite, desde de pequena. Fiquei com medo dos pedintes, do deserto, da falta de policiamento e.... epa! Mas o que é isso que estou vendo??
Estou vendo uma ladeira muito bem movimentada, com muita gente pelas ruas, um outro beco aqui com um velho preto cantarolando uma música qualquer. Um outro cumprimentando seu amigo. Mas a frente já vi um grupo de mulheres reunidas com suas tranças comentando sobre alguma novela e do lado vi um grupo de rapazes falando de um certo time cair pra série B. E de repente o medo se foi porque estou em casa, em Salvador - BA- Brasil e bem...Havana era ali.
Incrível como foi rápida a sinapse de associação que fiz entre Havana e Salvador. Pessoas alegres, pessoas com problemas mas ali resistindo a tudo: a falta de estrutura, o descaso das autoridades, a pobreza, a miséria...pessoas ali assim como aquelas mostradas no filme, eram pessoas que lutam e que não perdem a sua essência , as suas raizes.
Por ali fui caminhando, ladeira acima, ladeira abaixo....quase flutuando me deixando levar por uma samba de roda ali, um barulho de sorriso por lá, por um batuque do Olodum acolá, uma salsa aqui....fui me deixando levar pelos ritmos, pela beleza, pela gente viva. Pela gente que sobrevive mesmo subvertida em seus problemas. Fui me deixando levar pela CIDADE que assim como Havana sobrevive em meios a sua sujeira, degradação, pobreza. Que grita pela sua VIVICIDADE mesmo em meio às suas adversidades.

E naquele momento ficou claro o por que de tudo aquilo, porque aquela despretensiosa saída da operação Explorando Salvador tinha me levado ali. Ficou claro que assim como é a CIDADE, assim sou eu...buscando sobressair em meus verdadeiros gostos e interesses escondidos debaixo da minha pele, minha verdadeira identidade, quem realmente eu sou. Essa simples ida ao Centro Histórico que fez perceber que gosto de cultura, que gosto de arte, que gosto de musica...essa latina, essa baiana. Me fez perceber a força que tenho dentro de mim, minha autenticidade. minha fé e a beleza que sei que tá aqui bem guardada. E algo gritou dentro de mim mesmo em meio a minha sujeira, aos meus percalços , à minha vergonha e aos meus maltratos, gritou dizendo: estou aqui! gritou pela minha VIVACIDADE.

E viva EU!
E viva a CIDADE!


Salsa cubana em Salvador



Escola do Olodum














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